domingo, 14 de novembro de 2021

Minibio

Houve tempos...quando muito criança ainda, eu a via costurando na primeira sala da casa.
Digo primeira porque a casa era imensa e naquele tempo não existia ateliê, ocupava-se um espaço na casa.  E a primeira sala era mais ampla e perto da rua.
Panos, retalhos, linhas e linhas.
Roupas e pedaços de roupas.
Hoje costurando aqui,lembrei-me de nunca ter feito curso de corte e costura...Fui fazendo aqui e ali...Lembrei-me, talvez , de algumas costuras dela.
A casa dormia e ela ficava lá, com agulhas de costurar à mão,fazendo possíveis acabamentos.
Afinal!  Em épocas festivas se costurava muito.
Ah!  Tempo que não volta mais.
Lembro-me de catar retalhos coloridos e costurar para as bonecas.
Cada dia um estilo. Coisas que a cabeça ia imaginando.
Festas imaginárias, desfiles fictícios.

Quanta beleza, quanto cuidado nos acabamentos dela.
Às vezes não parava para comer,atarefada,correndo para lá e para cá...Quando já entendia-me por gente,pregava-lhe os botões,com sua supervisão!
Retirava e colocava quantas vezes necessário.
Desmanchava costuras ou chuleios que porventura ficassem nas peças.
Tinha apenas 10 anos; ou doze, não consigo recordar ao certo.
Mas a curiosidade e vontade em aprender, esta não esqueço-me, jamais!
Poucas lembranças...quase tudo se perdeu no tempo, nas cicatrizes do viver.
O ferro deslizava sobre as peças, tufo bem passadinho, alinhavado, prespontado.
Trabalho perfeito!
Curvas, detalhes e entalhes.
Pinças, pences e dobrados.
Como poderia esquecer-me!
Foram anos pós anos de aprendizado.
Enfiava-lhe a agulha da máquina, velha Singer à pedal, as agulhas de costuras à mão, ficavam todas com linhas, pois a vista já se cansava, mas nunca desistia do seu trabalho.
Tempos que não retornam,  mas satisfação e gratidão que ficam...
Obrigada Cruzelina,
À minha mãe...